Natal é a época em que “família” vira palavra de ordem — e também de fricção. Por que, mesmo quando a vida está difícil, o brasileiro continua colocando a família acima de trabalho, fé e amizades? O que a gente busca nesse núcleo: acolhimento, identidade, pertencimento… ou um bunker contra o mundo?
Para encarar esse espelho sem romantização (e sem cinismo), a Ju Wallauer e a Cris Bartis recebem Vera Iaconelli — psicanalista e escritora, autora de Análise e do Manifesto Antimaternalista. A conversa parte de um dado simples e gigantesco (8 em cada 10 brasileiros colocam a família como principal pilar da vida) para destrinchar a complexidade por trás dele.
Ao longo do episódio, a Vera provoca: família nunca é “sem mal-estar” — porque sua função é civilizatória, mistura afeto e norma, e cobra um preço. A gente fala sobre o ideal de família que melancoliza (e vira vitrine), sobre a armadilha dos pais perfeitos e o delírio contemporâneo de “educar sem erro”, e sobre como a parentalidade esbarra inevitavelmente em narcisismo, frustração e decepção — sem que isso precise virar ruptura.
Também entramos no que costuma explodir na ceia: culpa e obrigação, conflitos íntimos, silêncios “para manter a paz”, e o que acontece quando a família se fecha num clã do “mesmo”. No fim, fica a pergunta que muda tudo: qual é o seu projeto de família? Um lugar de controle e performance — ou um espaço poroso, capaz de conviver com diferença, atravessar crises e ainda assim construir história, alegria e memória?