Depois de viver por um ano e meio em uma comunidade pobre e predominantemente evangélica no interior da Bahia, o antropólogo Juliano Spyer escreveu o livro que virou manual para os políticos interessados em conquistar os evangélicos nas próximas eleições - “O Povo de Deus”. Spyer sustenta que o estigma e o preconceito da esquerda empurraram essa fatia cada vez mais numerosa do eleitorado na direção de Jair Bolsonaro. “O voto em Bolsonaro custa caro ao evangélico, não é um apoio fácil. Ele fala de forma vulgar, truculenta, e defende armas”, diz Spyer. “A diferença é que ele faz essa defesa clara, pública, da tal família tradicional”. Neste episódio, Spyer diz acreditar que, desta vez, o alinhamento político com o presidente da República não será automático como em 2018. E é nesse contexto de disputa que ele vê a indicação do presbiteriano André Mendonça para ministro do Supremo como um “golaço”. “Para o evangélico pobre, que não se vê representado em espaços de poder, foi um grande acontecimento”.