Portugal é um dos países europeus com menor percentagem de habitação pública. Extintas as barracas que enxameavam as áreas metropolitanas, o Estado deixou de olhar para a habitação como uma política pública. A galopante subida mundial do preço da habitação, com o preço das casas a subir duas e três vezes mais rápido do que os rendimentos do trabalho nas últimas décadas, afetou mais seriamente o nosso país pela ausência de resposta pública. No último mês e meio, a propósito das medidas anunciadas pelo Governo, discutiu-se como raras vezes aconteceu, a política de habitação. O debate centrou-se quase exclusivamente nos interesses de investidores e no direito à propriedade, ignorando os afetados: as famílias que não conseguem encontrar uma casa e que não podem estar anos à espera da construção pública que tarda em aparecer. Tiago Mota Saraiva concluiu o curso de Arquitetura na Universidade de Lisboa, onde é professor convidado, foi da direção da Ordem dos Arquitetos e tem um já longo caminho de participação cívica e pública sobre a forma de fazer cidade e, como tal, política. Defende uma prática politizada da arquitetura, relacionando o seu trabalho com o envolvimento das populações mais desfavorecidas, num processo participado de construção de comunidades.