Há um ano, o país político vivia o drama da incerteza que podia determinar a queda do Governo. A resistência do PS então liderado por Pedro Nuno Santos à viabilização do orçamento tornava tudo possível. Só uma negociação dura na última hora salvou o país de uma crise política. Por estes dias, nada de comparável acontece. O PS, agora nas mãos de José Luís Carneiro, já anunciou a abstenção do partido, garantindo que o segundo orçamento de Joaquim Morais Sarmento vai ser aprovado sem dramas nem estado de alma.

O que há de diferente de um ano para o outro? O clima político distendeu-se ou o orçamento é mais pacífico – ou, como alguns observadores notam, mais aborrecido? Ou serão as duas coisas? Como ponto de partida para a análise sobre o que mudou em doze meses, vale a pena admitir as duas coisas. José Luís Carneiro anuncia a sua abstenção exigente por saber que o país jamais perdoaria o regresso da instabilidade.

No seu raciocínio, não estará certamente ausente a ideia dos custos políticos da intransigência do seu antecessor. Mas também é verdade que o Governo mudou de atitude. Retirou do orçamento temas fracturantes, como a revisão da legislação laboral ou a redução dos impostos sobre as empresas, que tratará de aprovar separadamente no Parlamento.

Estarão os maiores partidos a aprender a lidar com a nova realidade de uma assembleia da República fragmentada, onde parece improvável o surgimento de uma maioria absoluta? Haverá uma nova consciência de que a relação sempre tensa entre governo e oposição está obrigada a reservar um espaço de compromisso que garanta a estabilidade?

Questões que vamos aqui discutir com Filipa Raimundo, doutorada em ciências sociais e políticas pelo Instituto Europeu de Florença e professora no ISCTE, em Lisboa.

H&aacute; um ano, o pa&iacute;s pol&iacute;tico vivia o drama da incerteza que podia determinar a queda do Governo. A resist&ecirc;ncia do PS ent&atilde;o liderado por Pedro Nuno Santos &agrave; viabiliza&ccedil;&atilde;o do or&ccedil;amento tornava tudo poss&iacute;vel. S&oacute; uma negocia&ccedil;&atilde;o dura na &uacute;ltima hora salvou o pa&iacute;s de uma crise pol&iacute;tica. Por estes dias, nada de compar&aacute;vel acontece. O PS, agora nas m&atilde;os de Jos&eacute; Lu&iacute;s Carneiro, j&aacute; anunciou a absten&ccedil;&atilde;o do partido, garantindo que o segundo or&ccedil;amento de Joaquim Morais Sarmento vai ser aprovado sem dramas nem estado de alma.
O que h&aacute; de diferente de um ano para o outro? O clima pol&iacute;tico distendeu-se ou o or&ccedil;amento &eacute; mais pac&iacute;fico &ndash; ou, como alguns observadores notam, mais aborrecido? Ou ser&atilde;o as duas coisas? Como ponto de partida para a an&aacute;lise sobre o que mudou em doze meses, vale&nbsp;a pena&nbsp;admitir as duas coisas. Jos&eacute; Lu&iacute;s Carneiro anuncia a sua absten&ccedil;&atilde;o exigente por saber que o pa&iacute;s jamais perdoaria o regresso da instabilidade.
No seu racioc&iacute;nio, n&atilde;o estar&aacute; certamente ausente a ideia dos custos pol&iacute;ticos da intransig&ecirc;ncia do seu antecessor. Mas tamb&eacute;m &eacute; verdade que o Governo mudou de atitude. Retirou do or&ccedil;amento temas fracturantes, como a revis&atilde;o da legisla&ccedil;&atilde;o laboral ou a redu&ccedil;&atilde;o dos impostos sobre as empresas, que tratar&aacute; de aprovar separadamente no Parlamento.
Estar&atilde;o os maiores partidos a aprender a lidar com a nova realidade de uma assembleia da Rep&uacute;blica fragmentada, onde parece improv&aacute;vel o surgimento de uma maioria absoluta? Haver&aacute; uma nova consci&ecirc;ncia de que a rela&ccedil;&atilde;o sempre tensa entre governo e oposi&ccedil;&atilde;o est&aacute; obrigada a reservar um espa&ccedil;o de compromisso que garanta a estabilidade?
Quest&otilde;es que vamos aqui discutir com Filipa Raimundo, doutorada em ci&ecirc;ncias sociais e pol&iacute;ticas pelo Instituto Europeu de Floren&ccedil;a e professora no ISCTE, em Lisboa.

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