A crise política instalou-se em França. Michel Barnier foi nomeado primeiro-ministro, em Setembro, e derrubado ontem, com a aprovação de uma moção de censura, apresentada pelos partidos de esquerda, reunidos na Nova Frente Popular, que obteve os votos do partido de extrema-direita, a União Nacional (ou Rassemblement National, em francês). No final de contas, este foi o Governo mais efémero da Vª República.
O que desencadeou a moção de censura foi a intenção do Governo de recorrer a um artigo da Constituição francesa, que permite forçar a aprovação de uma lei sem o voto favorável na Assembleia Nacional.
Em causa estava a aprovação da lei de financiamento da segurança social. Barnier fez cedências de última hora, suspendendo as alterações aos medicamentos reembolsados pelo Estado, uma das “linhas vermelhas” de Marine Le Pen, mas o seu partido manteve-se intransigente.
O passo seguinte cabe a Emmanuel Macron. O presidente francês não pode convocar novas eleições legislativas, porque as últimas tiveram lugar em Junho passado, e não é possível realizar novo sufrágio até Junho de 2025.
Barnier já avisou que não aceita ser reconduzido e o líder socialista, Olivier Faurre, exige um primeiro-ministro de esquerda. A França Insubmissa, à esquerda, e a União Nacional, à direita, pedem a destituição de Macron.
Neste episódio, João Carvalho, cientista político e investigador do Iscte, analisa as consequências desta crise, o que resta do macronismo e antecipa o que poderá ser um futuro governo.