A realidade dos números é implacável: de janeiro a agosto desse ano, o setor público brasileiro registrou déficit de R$ 86 bilhões e a relação dívida-PIB passou de 78,5% – proporção mais alta que a média dos países em desenvolvimento, da qual o Brasil faz parte. O bom desempenho do PIB – acima do consenso do mercado – e a avaliação positiva da agência de risco de crédito Moody’s sinalizam virtudes da política econômica, mas a curva ascendente nas taxas de juros e o risco de estourar o teto na meta de inflação são alertas que exigem uma resposta do governo. A expectativa era que logo no pós-eleição, a equipe econômica anunciasse um grande corte de gastos que demonstrasse que o arcabouço fiscal – que prevê zerar o déficit público em 2025 – segue de pé. Por enquanto, o pacote não saiu e nem a sinalização do governo Lula de como e onde serão aplicados os cortes. Para analisar a trajetória fiscal das contas públicas brasileiras e comentar as propostas que estão na mesa do presidente, Natuza Nery conversa com Bruno Carazza, colunista do jornal Valor Econômico, comentarista de economia do Jornal da Globo e professor associado da Fundação Dom Cabral.