James Arthur Baldwin nasceu faz este agosto 96 anos. Aconteceu no Harlem, um bairro de Manhattan, a norte do estado de Nova Iorque. Foi um dos mais influentes artistas da sua geração e uma das personalidades mais relevantes do movimento pela igualdade dos direitos civis nos Estados Unidos da América, nas décadas de 50 e 60.
Escritor, ativista anti-racista, anti-colonialista e anti-imperialista é um autor quase desconhecido em Portugal. O pensamento e reflexões de Baldwin estavam, até há poucos anos, só acessíveis a quem percebesse inglês e soubesse da sua existência. E talvez esse renascimento só se tenha dado pela força que a imagem e o cinema têm. Em 2016, o documentário “I Am Not Your Negro” (uma co-produção francesa e estadunidense) dirigida e escrita pelo realizador haitiano Raoul Peck e narrado por Samuel L. Jackson, resgatou Baldwin do esquecimento.
Por estranho que pareça, em dezembro de 2018, quando lançámos esta reportagem documental, só existia um livro seu traduzido e publicado por cá: “Se Esta Rua Falasse”, lançado pela Alfaguara. Entretanto, no ano passado, a mesma casa editou “Se o Disseres na Montanha” e, já este mês, “O Quarto de Giovanni”, mais de seis décadas depois de terem sido publicados em inglês.
O mundo discutir o racismo, o colonialismo, a escravatura nada tem de novo, como se prova pelas reflexões de Baldwin, feitas dezenas de anos. Também não é nova a ideia de que discutir estes temas e não discutir outros, como a classe, o género ou orientação sexual, exclui do debate a complexidade das desigualdades e das opressões que grupos marginalizados sempre sofreram. “Baldwin era interseccional antes de ‘interseccional’ ser uma classificação”, disse, à cadeia de televisão norte-americana NBC, Chris Freeman, linguista doutorado em língua Inglesa, professor na Universidade da Califórnia do Sul, nos Estados Unidos: “Ele é a razão porque hoje existe a palavra”.
Afinal, um escritor queer e negro, como James Baldwin, contar em livro uma relação homossexual entre dois homens, em 1956, era estar muito à frente do seu tempo. Era perigoso, se pensarmos que “Lei dos Direitos Civis”, que proibia, pela primeira vez, a discriminação racial, religiosa e de género no acesso a emprego, a escolas, a espaços públicos ou ao direito ao voto nos Estados Unidos da América, só seria aprovada em 1964.
Hoje, relembramos a sua vida e obra. Fiquem com a reportagem.