Notícias de tiroteios, perseguições de última hora, agressões à polícia e nas escolas. É assim que Chelas é apresentada nos telejornais e nas manchetes dos jornais portugueses. Um antro de violência a menos de dez estações de metro ou 15 minutos de carro da Praça do Comércio, onde turistas queimados pelo sol bebem gins tónicos e comem petiscos “portugueses” de óculos escuros na cara. Para muita gente, Chelas é só mais um "bairro periférico”. Mas o estatuto de periferia é uma decisão política - Chelas não é mais longe da Praça do Comércio do que as Amoreiras, o Areeiro, Campo de Ourique, Campolide, Parque das Nações ou Alcântara. Ainda assim, taxistas não conduzem para o bairro, pizzarias recusam-se a levar lá comida.

“Esta zona não tem entregas.”, disse-me a Telepizza quando tentava encomendar uma pizza para Chelas. "Porquê?”, perguntei. “Estas zonas geralmente são consideradas zonas... perigosas (…) Na Zona J têm de ir buscar na esquadra”. "Zonas perigosas".

Quem lá vive sente esta ou outras discriminações, todos os dias. Em entrevistas de trabalho, há quem esconda onde mora para não ficar de fora. Na escola, segundo o Sandro Santos, quem é do bairro também fica de fora : “Se no meio de 20 alunos tens três ou quatro do bairro social, esquece, esses já foram.”. O Carlos, ou MC Bambam, conta-nos como, para as autoridades, é suspeito quem vive no bairro: "Para eles [a polícia], somos sempre a mesma coisa, somos todos iguais. Por isso, não vale a pena. Branco, cigano ou preto, não interessa. Se és de um bairro social, (estão) em cima de ti…”. 

As discriminações constantes geram a frustração de quem se sente suspeito por tudo e por nada e destrói sonhos, vidas. Mas será a violência que faz as manchetes. Ou são as manchetes que fazem a violência?

O MC Bambam e o Sandro Santos fazem parte do Bataclan 1950, um grupo de jovens, alguns MC’s [Mestre de Cerimónias, designação dada aos cantores de rap que escrevem e cantam as suas próprias letras], que têm vindo a denunciar através através do rap a discriminação e a violência policial de que sofrem no bairro. Foi com eles que conversámos nesta reportagem gravada no Bairro do Condado, em Chelas. Ouve a reportagem aqui.

Edição: Bernardo Afonso, Frederico Raposo, Maria Almeida, Pedro Santos e Ricardo Ribeiro
Reportagem: Maria Almeida, Ricardo Ribeiro
Montagem e mistura de som: Bernardo Afonso
Música: MC Bambam e Bataclan 1950

Agradecimentos aos BAGABAGA STUDIOS, sem os quais esta reportagem não seria possível.

Not&iacute;cias de tiroteios, persegui&ccedil;&otilde;es de &uacute;ltima hora, agress&otilde;es &agrave; pol&iacute;cia e nas escolas. &Eacute; assim que Chelas &eacute; apresentada nos telejornais e nas manchetes dos jornais portugueses. Um antro de viol&ecirc;ncia a menos de dez esta&ccedil;&otilde;es de metro ou 15 minutos de carro da Pra&ccedil;a do Com&eacute;rcio, onde turistas queimados pelo sol bebem gins t&oacute;nicos e comem petiscos &ldquo;portugueses&rdquo; de &oacute;culos escuros na cara. Para muita gente, Chelas &eacute; s&oacute; mais um "bairro perif&eacute;rico&rdquo;. Mas o estatuto de periferia &eacute; uma decis&atilde;o pol&iacute;tica - Chelas n&atilde;o &eacute; mais longe da Pra&ccedil;a do Com&eacute;rcio do que as Amoreiras, o Areeiro, Campo de Ourique, Campolide, Parque das Na&ccedil;&otilde;es ou Alc&acirc;ntara. Ainda assim, taxistas n&atilde;o conduzem para o bairro, pizzarias recusam-se a levar l&aacute; comida. &ldquo;Esta zona n&atilde;o tem entregas.&rdquo;, disse-me a Telepizza quando tentava encomendar uma pizza para Chelas. "Porqu&ecirc;?&rdquo;, perguntei. &ldquo;Estas zonas geralmente s&atilde;o consideradas zonas... perigosas (&hellip;) Na Zona J t&ecirc;m de ir buscar na esquadra&rdquo;. "Zonas perigosas". Quem l&aacute; vive sente esta ou outras discrimina&ccedil;&otilde;es, todos os dias. Em entrevistas de trabalho, h&aacute; quem esconda onde mora para n&atilde;o ficar de fora. Na escola, segundo o Sandro Santos, quem &eacute; do bairro tamb&eacute;m fica de fora : &ldquo;Se no meio de 20 alunos tens tr&ecirc;s ou quatro do bairro social, esquece, esses j&aacute; foram.&rdquo;. O Carlos, ou MC Bambam, conta-nos como, para as autoridades, &eacute; suspeito quem vive no bairro: "Para eles [a pol&iacute;cia], somos sempre a mesma coisa, somos todos iguais. Por isso, n&atilde;o vale a pena. Branco, cigano ou preto, n&atilde;o interessa. Se &eacute;s de um bairro social, (est&atilde;o) em cima de ti&hellip;&rdquo;. As discrimina&ccedil;&otilde;es constantes geram a frustra&ccedil;&atilde;o de quem se sente suspeito por tudo e por nada e destr&oacute;i sonhos, vidas. Mas ser&aacute; a viol&ecirc;ncia que faz as manchetes. Ou s&atilde;o as manchetes que fazem a viol&ecirc;ncia? O MC Bambam e o Sandro Santos fazem parte do Bataclan 1950, um grupo de jovens, alguns MC&rsquo;s [Mestre de Cerim&oacute;nias, designa&ccedil;&atilde;o dada aos cantores de rap que escrevem e cantam as suas pr&oacute;prias letras], que t&ecirc;m vindo a denunciar atrav&eacute;s atrav&eacute;s do rap a discrimina&ccedil;&atilde;o e a viol&ecirc;ncia policial de que sofrem no bairro. Foi com eles que convers&aacute;mos nesta reportagem gravada no Bairro do Condado, em Chelas. Ouve a reportagem aqui. Edi&ccedil;&atilde;o: Bernardo Afonso, Frederico Raposo, Maria Almeida, Pedro Santos e Ricardo Ribeiro Reportagem: Maria Almeida, Ricardo Ribeiro Montagem e mistura de som: Bernardo Afonso M&uacute;sica: MC Bambam e Bataclan 1950 Agradecimentos aos BAGABAGA STUDIOS, sem os quais esta reportagem n&atilde;o seria poss&iacute;vel.

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Fumaça

Fumaça é um podcast de jornalismo de investigação. É um órgão de comunicação social independente, progressista e dissidente.

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Notícias de tiroteios, perseguições de última hor…

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