15 de Setembro de 2017. Dezenas de pessoas entravam pela porta do número 69 da Rua Marques da Silva, em Arroios, Lisboa, que se encontrava devoluto e abandonado há mais de 2 anos, reivindicando-o para si e para quem o quisesse renovar. 

Lia-se no manifesto publicado nesse mesmo dia na página de Facebook da Assembleia de Ocupação de Lisboa (AOLX) que “nos últimos anos, o direito a habitar na cidade de Lisboa tem sido alvo de diversos ataques.”, e também que “a recomposição destrutiva dos modos de vida na cidade, agora reservada a quem consegue pagar mais caro, é ilustrada pelos sucessivos casos de despejo.”. A ocupação do número 69 era um ato político que tinha expressão na faixa que enfeitava a fachada do prédio: “A cidade é de quem a ocupa” . E os turistas passavam e olhavam e fotografavam a faixa. E sorriam.

O prédio, pertencente à Câmara Municipal de Lisboa, tinha servido de habitação a várias famílias eventualmente realojadas noutras casas camarárias. Tanto o número 69 como o prédio vizinho, o número 67, tinham sido desocupados. Eram agora casa sem gente, quando há cada vez mais gente sem casa. Em 2016 e 2017, segundo o Ministério de Justiça, foram despejadas cerca de 5 famílias por dia em Portugal. As rendas em Lisboa aumentam entre 30% e 40% desde 2014. Os pobres são empurrados para fora da cidade e para fora das suas casas A cidade, essa, fica para quem a pode pagar.

A AOLX avançava com obras de renovação do edifício e, durante cerca de 4 meses, o que outrora fora um prédio degradado por consequência do abandono - água entrava pelo telhado, criando infiltrações, as escadas principais do prédio estavam em más condições, a parede lateral da entrada estava podre - parecia agora pronto para alojar gente. E alojava. Duas pessoas vivam já no 69 da rua Marques da Silva.

O sonho chegou ao fim e a ocupação terminou a 30 de Janeiro quando, sob ordens de Manuel Salgado, vereador do Planeamento, Urbanismo, Património e Obras Municipais de Lisboa, os ocupas foram despejadas e a porta de entrada emparedada com cimento e tijolo. Hoje, nada se lê na fachada do prédio - está abandonado em vez de ocupado.

Esta é uma reportagem gravada na ocupa sobre o direito à habitação e à ocupação. O que vais ouvir são uma série de testemunhos de quem ocupou a casa, de quem a viveu e também de quem a visitou.

Texto: Ricardo Ribeiro
Entrevistas: Ricardo Ribeiro e Catarina Leal
Captação de som: Ricardo Ribeiro e Catarina Leal
Edição de som: Bernardo Afonso
Música: Ayton, um dos ocupas do nº69 da Rua Marques da Silva

15 de Setembro de 2017. Dezenas de pessoas entravam pela porta do n&uacute;mero 69 da Rua Marques da Silva, em Arroios, Lisboa, que se encontrava devoluto e abandonado h&aacute; mais de 2 anos, reivindicando-o para si e para quem o quisesse renovar. Lia-se no manifesto publicado nesse mesmo dia na p&aacute;gina de Facebook da Assembleia de Ocupa&ccedil;&atilde;o de Lisboa (AOLX) que &ldquo;nos &uacute;ltimos anos, o direito a habitar na cidade de Lisboa tem sido alvo de diversos ataques.&rdquo;, e tamb&eacute;m que &ldquo;a recomposi&ccedil;&atilde;o destrutiva dos modos de vida na cidade, agora reservada a quem consegue pagar mais caro, &eacute; ilustrada pelos sucessivos casos de despejo.&rdquo;. A ocupa&ccedil;&atilde;o do n&uacute;mero 69 era um ato pol&iacute;tico que tinha express&atilde;o na faixa que enfeitava a fachada do pr&eacute;dio: &ldquo;A cidade &eacute; de quem a ocupa&rdquo; . E os turistas passavam e olhavam e fotografavam a faixa. E sorriam. O pr&eacute;dio, pertencente &agrave; C&acirc;mara Municipal de Lisboa, tinha servido de habita&ccedil;&atilde;o a v&aacute;rias fam&iacute;lias eventualmente realojadas noutras casas camar&aacute;rias. Tanto o n&uacute;mero 69 como o pr&eacute;dio vizinho, o n&uacute;mero 67, tinham sido desocupados. Eram agora casa sem gente, quando h&aacute; cada vez mais gente sem casa. Em 2016 e 2017, segundo o Minist&eacute;rio de Justi&ccedil;a, foram despejadas cerca de 5 fam&iacute;lias por dia em Portugal. As rendas em Lisboa aumentam entre 30% e 40% desde 2014. Os pobres s&atilde;o empurrados para fora da cidade e para fora das suas casas A cidade, essa, fica para quem a pode pagar. A AOLX avan&ccedil;ava com obras de renova&ccedil;&atilde;o do edif&iacute;cio e, durante cerca de 4 meses, o que outrora fora um pr&eacute;dio degradado por consequ&ecirc;ncia do abandono - &aacute;gua entrava pelo telhado, criando infiltra&ccedil;&otilde;es, as escadas principais do pr&eacute;dio estavam em m&aacute;s condi&ccedil;&otilde;es, a parede lateral da entrada estava podre - parecia agora pronto para alojar gente. E alojava. Duas pessoas vivam j&aacute; no 69 da rua Marques da Silva. O sonho chegou ao fim e a ocupa&ccedil;&atilde;o terminou a 30 de Janeiro quando, sob ordens de Manuel Salgado, vereador do Planeamento, Urbanismo, Patrim&oacute;nio e Obras Municipais de Lisboa, os ocupas foram despejadas e a porta de entrada emparedada com cimento e tijolo. Hoje, nada se l&ecirc; na fachada do pr&eacute;dio - est&aacute; abandonado em vez de ocupado. Esta &eacute; uma reportagem gravada na ocupa sobre o direito &agrave; habita&ccedil;&atilde;o e &agrave; ocupa&ccedil;&atilde;o. O que vais ouvir s&atilde;o uma s&eacute;rie de testemunhos de quem ocupou a casa, de quem a viveu e tamb&eacute;m de quem a visitou. Texto: Ricardo Ribeiro Entrevistas: Ricardo Ribeiro e Catarina Leal Capta&ccedil;&atilde;o de som: Ricardo Ribeiro e Catarina Leal Edi&ccedil;&atilde;o de som: Bernardo Afonso M&uacute;sica: Ayton, um dos ocupas do n&ordm;69 da Rua Marques da Silva

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