Sábado passado assinalaram-se 42 anos sobre o 25 de novembro de 1975.
Nos livros da escola, nas conversas de café, nas retóricas dos partidos do centrão, a data é apresentada como o dia em que se travou o vírus comunista em Portugal. O país dera, então, os passos decisivos a caminho da Liberdade. Chegara o tempo da “normalização democrática”, contam-nos. 
E se não tiver sido assim?

Sabemos que as tensões vividas desde a queda formal do Estado Novo e durante todo o Processo Revolucionário em Curso (PREC) se acumularam de tal forma no Verão Quente de 1975 que há poucas dúvidas de que o país estivesse próximo de uma Guerra Civil.
Nos quartéis, os militares estavam divididos. Liderando o país, os atores que tinham feito o 25 de abril e criado o Movimento das Forças Armadas não se entendiam. Cada partido político queria um Portugal diferente. Bebendo avidamente da Liberdade, as gentes permitiam-se fazer tudo o que antes só sonhavam: greves, plenários, ocupar terras, fábricas, casas.
Mas as décadas de ditadura fascista, da PIDE, do medo e do respeitinho tinham pouco de passado. Pelo sim, pelo não, as armas foram sendo distribuídas livremente ao Povo, não fosse dar-se o caso de ser necessário contar espingardas. 
Entre os que defendiam o Socialismo Revolucionário, os que se apresentavam como moderados e os envergonhadamente saudosistas do Antigo Regime, parecem ter perdido os primeiros.

Mas e se a História for menos óbvia e com mais contradições? E se o 25 de novembro de 1975 não tiver significado a pacificação de coisa nenhuma?

Miguel Carvalho, grande repórter na revista VISÃO, escreveu 560 páginas que defendem esta tese. “Quando Portugal Ardeu. Histórias e segredos da violência política no pós-25 de Abril” (Oficina do Livro, 2017) fala-nos da rede terrorista de extrema direita que matou, espancou, pôs bombas e incendiou sedes de partidos de esquerda em Portugal nos primeiros anos de Democracia.

Para o portuense nascido a 25 de novembro, mas de 1970, a história foi outra. “É estranho que a memória, neste país, demore tanto tempo a fazer. (…) Continuamos a ouvir a narrativa do costume: o 25 de novembro de 75 travou a ditadura comunista; o PS nunca foi financiado pela CIA; os americanos é que nos ajudaram a conquistar a Liberdade e a Democracia”.

E as conclusões também. “Aquilo que Portugal viveu nessa época foi o risco de resvalar novamente para uma ditadura de extrema-Direita. Partilho desta convicção. Deixei margem para que a investigação dissesse o contrário. Não disse. Reforçou-a. (…) A convicção com que fico depois deste livro, que reforcei com as entrevistas que fiz, é que o Dr. Mário Soares se valeu de tudo, de tudo, para pôr o PS como a cabeça deste regime e atribuir ao PCP aquilo de que o PCP, em grande parte, não é responsável.”

Até já,
Pedro Santos

Texto: Pedro Santos
Entrevista: Pedro Santos e Ricardo Ribeiro
Preparação: Maria Almeida, Pedro Santos, Ricardo Ribeiro e Tomás Pereira
Captação de som: Pedro Zuzarte
Edição de som: Bernardo Afonso

S&aacute;bado passado assinalaram-se 42 anos sobre o 25 de novembro de 1975. Nos livros da escola, nas conversas de caf&eacute;, nas ret&oacute;ricas dos partidos do centr&atilde;o, a data &eacute; apresentada como o dia em que se travou o v&iacute;rus comunista em Portugal. O pa&iacute;s dera, ent&atilde;o, os passos decisivos a caminho da Liberdade. Chegara o tempo da &ldquo;normaliza&ccedil;&atilde;o democr&aacute;tica&rdquo;, contam-nos. E se n&atilde;o tiver sido assim? Sabemos que as tens&otilde;es vividas desde a queda formal do Estado Novo e durante todo o Processo Revolucion&aacute;rio em Curso (PREC) se acumularam de tal forma no Ver&atilde;o Quente de 1975 que h&aacute; poucas d&uacute;vidas de que o pa&iacute;s estivesse pr&oacute;ximo de uma Guerra Civil. Nos quart&eacute;is, os militares estavam divididos. Liderando o pa&iacute;s, os atores que tinham feito o 25 de abril e criado o Movimento das For&ccedil;as Armadas n&atilde;o se entendiam. Cada partido pol&iacute;tico queria um Portugal diferente. Bebendo avidamente da Liberdade, as gentes permitiam-se fazer tudo o que antes s&oacute; sonhavam: greves, plen&aacute;rios, ocupar terras, f&aacute;bricas, casas. Mas as d&eacute;cadas de ditadura fascista, da PIDE, do medo e do respeitinho tinham pouco de passado. Pelo sim, pelo n&atilde;o, as armas foram sendo distribu&iacute;das livremente ao Povo, n&atilde;o fosse dar-se o caso de ser necess&aacute;rio contar espingardas. Entre os que defendiam o Socialismo Revolucion&aacute;rio, os que se apresentavam como moderados e os envergonhadamente saudosistas do Antigo Regime, parecem ter perdido os primeiros. Mas e se a Hist&oacute;ria for menos &oacute;bvia e com mais contradi&ccedil;&otilde;es? E se o 25 de novembro de 1975 n&atilde;o tiver significado a pacifica&ccedil;&atilde;o de coisa nenhuma? Miguel Carvalho, grande rep&oacute;rter na revista VIS&Atilde;O, escreveu 560 p&aacute;ginas que defendem esta tese. &ldquo;Quando Portugal Ardeu. Hist&oacute;rias e segredos da viol&ecirc;ncia pol&iacute;tica no p&oacute;s-25 de Abril&rdquo; (Oficina do Livro, 2017) fala-nos da rede terrorista de extrema direita que matou, espancou, p&ocirc;s bombas e incendiou sedes de partidos de esquerda em Portugal nos primeiros anos de Democracia. Para o portuense nascido a 25 de novembro, mas de 1970, a hist&oacute;ria foi outra. &ldquo;&Eacute; estranho que a mem&oacute;ria, neste pa&iacute;s, demore tanto tempo a fazer. (&hellip;) Continuamos a ouvir a narrativa do costume: o 25 de novembro de 75 travou a ditadura comunista; o PS nunca foi financiado pela CIA; os americanos &eacute; que nos ajudaram a conquistar a Liberdade e a Democracia&rdquo;. E as conclus&otilde;es tamb&eacute;m. &ldquo;Aquilo que Portugal viveu nessa &eacute;poca foi o risco de resvalar novamente para uma ditadura de extrema-Direita. Partilho desta convic&ccedil;&atilde;o. Deixei margem para que a investiga&ccedil;&atilde;o dissesse o contr&aacute;rio. N&atilde;o disse. Refor&ccedil;ou-a. (&hellip;) A convic&ccedil;&atilde;o com que fico depois deste livro, que reforcei com as entrevistas que fiz, &eacute; que o Dr. M&aacute;rio Soares se valeu de tudo, de tudo, para p&ocirc;r o PS como a cabe&ccedil;a deste regime e atribuir ao PCP aquilo de que o PCP, em grande parte, n&atilde;o &eacute; respons&aacute;vel.&rdquo; At&eacute; j&aacute;, Pedro Santos Texto: Pedro Santos Entrevista: Pedro Santos e Ricardo Ribeiro Prepara&ccedil;&atilde;o: Maria Almeida, Pedro Santos, Ricardo Ribeiro e Tom&aacute;s Pereira Capta&ccedil;&atilde;o de som: Pedro Zuzarte Edi&ccedil;&atilde;o de som: Bernardo Afonso

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Fumaça

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