Entre 1999 e 2001, 4 Parcerias Público-Privadas para a construção de autoestradas foram assinadas com a Ascendi, que na altura pertencia ao Grupo Mota-Engil: as autoestradas do Norte, Costa de Prata e Beiras Litoral e Alta. Jorge Coelho era então Ministro de Estado e do Equipamento Social. Luís Parreirão era Secretário de Estado Adjunto e das Obras Públicas. Os dois tutelavam a pasta das Obras Públicas. Os 2 assinaram estes acordos.

Não foi preciso esperar muito para que, 1 ano depois, em 2002, Luís Parreirão, já fora do governo, aceitasse um convite para ser administrador de várias empresas do Grupo Mota-Engil, incluindo a própria Ascendi. Em 2008, foi a vez de Jorge Coelho. Coube-lhe assumir a presidência executiva da Mota-Engil. 

Os casos de Jorge Coelho e de Luís Parreirão não são únicos nos Ministérios que tutelaram as Obras Públicas ao longo das últimas décadas. Dezenas de governantes juntaram-se a empresas como a Mota Engil (e outras) depois cumprirem as suas funções governamentais. 

Luís Valente de Oliveira era Ministro das Obras Públicas, Transportes e Habitação em 2002, quando foi assinada mais uma PPP para a concessão de outra autoestrada com a mesma Ascendi. Um ano mais tarde, em 2003, foi para o Conselho de Administração da Mota-Engil. 

Joaquim Ferreira do Amaral era Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações à data em que se negociava com a Lusoponte a concessão da Ponte Vasco da Gama, 1995. Em 2008 foi nomeado para o Conselho de Administração da mesma empresa.

O benefício direto a que governantes têm acesso, ao assinarem contratos, parcerias, e legislarem sobre assuntos que diretamente convêm às empresas para as quais trabalharão mais tarde mostra a promiscuidade entre o poder político e as empresas privadas. Empresas como a EDP, a Caixa Geral de Depósitos, a Mota Engil, a Lusoponte, o Grupo José de Mello, a Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados, a Cuatrecasas, entre outras, recrutam dezenas e dezenas de políticos que cruzam portas giratórias entre o privado e o público. Tudo legal, dizem. E tudo às claras.

Gustavo Sampaio, jornalista com quem falamos no episódio desta semana, chama-lhe o “capitalismo de compadrio”. O Gustavo trabalha na redação do Jornal Económico e tem vindo a investigar, desde há muito, a corrupção, as portas giratórias e a influência das grandes empresas privadas e das sociedades de advogados nas decisões políticas e nos governantes, tendo já escrito 3 livros - “Os Privilegiados”, “Os Facilitadores” e “Porque Falha Portugal?”.

Uns dias depois da comemoração do Dia Internacional contra a Corrupção, celebrado a 9 de Dezembro, conversamos sobre casos concretos: qual a influência da Mota Engil na política portuguesa? O que tem a EDP a ver com a decisão de avançar com o Plano Nacional de Barragens? Está o governo “amarrado” à EDP? Porque tantos Ministros e Ministras da Saúde vêm de seguradoras privadas e de empresas de saúde privadas?

Texto: Ricardo Ribeiro
Entrevista: Ricardo Ribeiro 
Preparação: Maria Almeida e Ricardo Ribeiro
Captação e edição de som: Bernardo Afonso

Entre 1999 e 2001, 4 Parcerias P&uacute;blico-Privadas para a constru&ccedil;&atilde;o de autoestradas foram assinadas com a Ascendi, que na altura pertencia ao Grupo Mota-Engil: as autoestradas do Norte, Costa de Prata e Beiras Litoral e Alta. Jorge Coelho era ent&atilde;o Ministro de Estado e do Equipamento Social. Lu&iacute;s Parreir&atilde;o era Secret&aacute;rio de Estado Adjunto e das Obras P&uacute;blicas. Os dois tutelavam a pasta das Obras P&uacute;blicas. Os 2 assinaram estes acordos. N&atilde;o foi preciso esperar muito para que, 1 ano depois, em 2002, Lu&iacute;s Parreir&atilde;o, j&aacute; fora do governo, aceitasse um convite para ser administrador de v&aacute;rias empresas do Grupo Mota-Engil, incluindo a pr&oacute;pria Ascendi. Em 2008, foi a vez de Jorge Coelho. Coube-lhe assumir a presid&ecirc;ncia executiva da Mota-Engil. Os casos de Jorge Coelho e de Lu&iacute;s Parreir&atilde;o n&atilde;o s&atilde;o &uacute;nicos nos Minist&eacute;rios que tutelaram as Obras P&uacute;blicas ao longo das &uacute;ltimas d&eacute;cadas. Dezenas de governantes juntaram-se a empresas como a Mota Engil (e outras) depois cumprirem as suas fun&ccedil;&otilde;es governamentais. Lu&iacute;s Valente de Oliveira era Ministro das Obras P&uacute;blicas, Transportes e Habita&ccedil;&atilde;o em 2002, quando foi assinada mais uma PPP para a concess&atilde;o de outra autoestrada com a mesma Ascendi. Um ano mais tarde, em 2003, foi para o Conselho de Administra&ccedil;&atilde;o da Mota-Engil. Joaquim Ferreira do Amaral era Ministro das Obras P&uacute;blicas, Transportes e Comunica&ccedil;&otilde;es &agrave; data em que se negociava com a Lusoponte a concess&atilde;o da Ponte Vasco da Gama, 1995. Em 2008 foi nomeado para o Conselho de Administra&ccedil;&atilde;o da mesma empresa. O benef&iacute;cio direto a que governantes t&ecirc;m acesso, ao assinarem contratos, parcerias, e legislarem sobre assuntos que diretamente conv&ecirc;m &agrave;s empresas para as quais trabalhar&atilde;o mais tarde mostra a promiscuidade entre o poder pol&iacute;tico e as empresas privadas. Empresas como a EDP, a Caixa Geral de Dep&oacute;sitos, a Mota Engil, a Lusoponte, o Grupo Jos&eacute; de Mello, a Morais Leit&atilde;o, Galv&atilde;o Teles, Soares da Silva &amp; Associados, a Cuatrecasas, entre outras, recrutam dezenas e dezenas de pol&iacute;ticos que cruzam portas girat&oacute;rias entre o privado e o p&uacute;blico. Tudo legal, dizem. E tudo &agrave;s claras. Gustavo Sampaio, jornalista com quem falamos no epis&oacute;dio desta semana, chama-lhe o &ldquo;capitalismo de compadrio&rdquo;. O Gustavo trabalha na reda&ccedil;&atilde;o do Jornal Econ&oacute;mico e tem vindo a investigar, desde h&aacute; muito, a corrup&ccedil;&atilde;o, as portas girat&oacute;rias e a influ&ecirc;ncia das grandes empresas privadas e das sociedades de advogados nas decis&otilde;es pol&iacute;ticas e nos governantes, tendo j&aacute; escrito 3 livros - &ldquo;Os Privilegiados&rdquo;, &ldquo;Os Facilitadores&rdquo; e &ldquo;Porque Falha Portugal?&rdquo;. Uns dias depois da comemora&ccedil;&atilde;o do Dia Internacional contra a Corrup&ccedil;&atilde;o, celebrado a 9 de Dezembro, conversamos sobre casos concretos: qual a influ&ecirc;ncia da Mota Engil na pol&iacute;tica portuguesa? O que tem a EDP a ver com a decis&atilde;o de avan&ccedil;ar com o Plano Nacional de Barragens? Est&aacute; o governo &ldquo;amarrado&rdquo; &agrave; EDP? Porque tantos Ministros e Ministras da Sa&uacute;de v&ecirc;m de seguradoras privadas e de empresas de sa&uacute;de privadas? Texto: Ricardo Ribeiro Entrevista: Ricardo Ribeiro Prepara&ccedil;&atilde;o: Maria Almeida e Ricardo Ribeiro Capta&ccedil;&atilde;o e edi&ccedil;&atilde;o de som: Bernardo Afonso

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Fumaça

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Entre 1999 e 2001, 4 Parcerias Público-Privadas p…

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