“Que o estado seja tão forte que não necessite ser violento” lia-se num panfleto de propaganda do Estado Novo. Era este o lema de Salazar. Matar era uma falha do sistema. O que se queria, antes, era que o povo não pensasse na política, não se manifestasse, não falasse, não saísse à rua, não reagisse.

O Estado Novo, ao contrário de outras ditaduras, não matou centenas de milhares de pessoas. Mas nem por isso foi menos violento, defende Fernando Rosas, o nosso convidado de hoje. Segundo o historiador, havia uma “violência invisível” e preventiva que era exercida no quotidiano dos Portugueses e que era mais eficaz do que qualquer outra. E foi essa violência, esse “coeficiente óptimo do terror”, como definiu o sociólogo Hermínio Martins, uma das razões para que o regime durasse tanto tempo e para que hoje ainda se sintam marcas da ditadura. 

A ditadura portuguesa foi a mais longa ditadura da história moderna da Europa Ocidental. No total, o regime de Óscar Carmona, António de Oliveira Salazar e Marcello Caetano durou 48 anos - meio século de medo, silêncio e repressão. Mas, porquê? Como conseguiu o Estado Novo durar tanto tempo? Porque não caiu mais cedo?

A verdade é que a ditadura portuguesa foi ultrapassando ao longo dos 48 anos todas as crises que poderiam pôr em causa a sua autoridade. Sobreviveu à Greve Geral Revolucionária de 1934, às greves operárias dos anos 40, sobreviveu aos protestos anti-fascistas no fim da 2ª Guerra Mundial, à eleição de 1958 e ao “terramoto político” que foi Humberto Delgado, à "onda de anarquia (que) tinha invadido a Universidade de Coimbra” em 1969, como descreve José Hermano Saraiva, na altura ministro da educação do regime, e ao golpe de Beja em 1961, mesmo quando todos já tinham percebido que “o Estado Novo tinha praticamente acabado” como recordou Mário Soares em 2011 numa entrevista à agência Lusa..

No episódio de hoje, conversamos com Fernando Rosas, historiador, professor catedrático jubilado na FCSH e investigador no Instituto de História Contemporânea, sobre o Estado Novo e o porquê de ter durado tanto tempo. 

Falámos sobre como Salazar controlava as Forças Armadas; como era para si importante o apoio da Igreja Católica; como o regime de corporativismo enfraquecia o poder dos trabalhadores; sobre como operavam as violências do regime: a preventiva e a repressiva; e sobre que marcas deixa ainda o Estado Novo no povo Português.

Ouve aqui a nossa conversa.

Até já,
Ricardo

&ldquo;Que o estado seja t&atilde;o forte que n&atilde;o necessite ser violento&rdquo; lia-se num panfleto de propaganda do Estado Novo. Era este o lema de Salazar. Matar era uma falha do sistema. O que se queria, antes, era que o povo n&atilde;o pensasse na pol&iacute;tica, n&atilde;o se manifestasse, n&atilde;o falasse, n&atilde;o sa&iacute;sse &agrave; rua, n&atilde;o reagisse. O Estado Novo, ao contr&aacute;rio de outras ditaduras, n&atilde;o matou centenas de milhares de pessoas. Mas nem por isso foi menos violento, defende Fernando Rosas, o nosso convidado de hoje. Segundo o historiador, havia uma &ldquo;viol&ecirc;ncia invis&iacute;vel&rdquo; e preventiva que era exercida no quotidiano dos Portugueses e que era mais eficaz do que qualquer outra. E foi essa viol&ecirc;ncia, esse &ldquo;coeficiente &oacute;ptimo do terror&rdquo;, como definiu o soci&oacute;logo Herm&iacute;nio Martins, uma das raz&otilde;es para que o regime durasse tanto tempo e para que hoje ainda se sintam marcas da ditadura. A ditadura portuguesa foi a mais longa ditadura da hist&oacute;ria moderna da Europa Ocidental. No total, o regime de &Oacute;scar Carmona, Ant&oacute;nio de Oliveira Salazar e Marcello Caetano durou 48 anos - meio s&eacute;culo de medo, sil&ecirc;ncio e repress&atilde;o. Mas, porqu&ecirc;? Como conseguiu o Estado Novo durar tanto tempo? Porque n&atilde;o caiu mais cedo? A verdade &eacute; que a ditadura portuguesa foi ultrapassando ao longo dos 48 anos todas as crises que poderiam p&ocirc;r em causa a sua autoridade. Sobreviveu &agrave; Greve Geral Revolucion&aacute;ria de 1934, &agrave;s greves oper&aacute;rias dos anos 40, sobreviveu aos protestos anti-fascistas no fim da 2&ordf; Guerra Mundial, &agrave; elei&ccedil;&atilde;o de 1958 e ao &ldquo;terramoto pol&iacute;tico&rdquo; que foi Humberto Delgado, &agrave; "onda de anarquia (que) tinha invadido a Universidade de Coimbra&rdquo; em 1969, como descreve Jos&eacute; Hermano Saraiva, na altura ministro da educa&ccedil;&atilde;o do regime, e ao golpe de Beja em 1961, mesmo quando todos j&aacute; tinham percebido que &ldquo;o Estado Novo tinha praticamente acabado&rdquo; como recordou M&aacute;rio Soares em 2011 numa entrevista &agrave; ag&ecirc;ncia Lusa.. No epis&oacute;dio de hoje, conversamos com Fernando Rosas, historiador, professor catedr&aacute;tico jubilado na FCSH e investigador no Instituto de Hist&oacute;ria Contempor&acirc;nea, sobre o Estado Novo e o porqu&ecirc; de ter durado tanto tempo. Fal&aacute;mos sobre como Salazar controlava as For&ccedil;as Armadas; como era para si importante o apoio da Igreja Cat&oacute;lica; como o regime de corporativismo enfraquecia o poder dos trabalhadores; sobre como operavam as viol&ecirc;ncias do regime: a preventiva e a repressiva; e sobre que marcas deixa ainda o Estado Novo no povo Portugu&ecirc;s. Ouve aqui a nossa conversa. At&eacute; j&aacute;, Ricardo

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