Em viagem aos Estados Unidos, um conhecido foi assistir com o filho a um jogo de basquete da NBA em Orlando, na Amway Arena. Ainda no Brasil. comprou os ingressos pela internet e embarcou para Nova Iorque. No dia de ir para Orlando, uma nevasca impediu o voo e eles perderam o jogo. E ele conformou-se. De volta ao Brasil, surpreso, recebeu um email da Amway Arena perguntando por que ele não foi ao jogo. Mais surpreso ainda ficou quando responderam que o ingresso incluía um seguro para casos assim. “O senhor gostaria de utilizar o seguro?” Ele concordou e recebeu pelo correio um cheque de cerca de 120 dólares. Putz! Para nós que temos de sair no tapa para tirar o bicão da nossa cadeira numerada nos principais estádios do Brasil, que custou uma pequena fortuna; que temos de usar um banheiro imundo; que pagamos uma nota para um guardador de carros não riscar nosso automóvel; que corremos risco de vida a cada vez que vamos a um estádio, o relato do meu conhecido é peça de ficção. Essa história tem muito a dizer sobre a competência técnica e profissional dos norte-americanos.

Mas sabe o que realmente me chamou a atenção? Foi o que eu chamo de “competência moral.” Alguém tomou a decisão moral de ressarcir quem foi prejudicado, o que de certa forma é de se esperar. Mas a verdadeira profundidade da decisão moral foi: não vamos esperar que a pessoa reclame, vamos nos antecipar e avisar que ela tem direitos e perguntar se quer valer-se deles. Você consegue imaginar uma situação assim aqui no Brasil?  Deixe de lado a questão estrutural, se temos ou não computadores e gente capaz para implementar um processo idêntico. Concentre-se na pergunta que realmente interessa: temos a competência moral para respeitosamente avisar a pessoa que ela tem um direito? Ou vamos optar pelo velho: “Deixa quieto. Ele nem vai perceber...”? Pois é. Competência técnica e profissional tem jeito, o dinheiro pode comprar. Mas competência moral, ah, isso vem lá de um lugar que o dinheiro não alcança. Por isso vai demorar um pouco pra gente chegar lá.

 

No Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=tvpxtY8-ixE

 

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Em viagem aos Estados Unidos, um conhecido foi assistir com o filho a um jogo de basquete da NBA em Orlando, na Amway Arena. Ainda no Brasil. comprou os ingressos pela internet e embarcou para Nova Iorque. No dia de ir para Orlando, uma nevasca impediu o voo e eles perderam o jogo. E ele conformou-se. De volta ao Brasil, surpreso, recebeu um email da Amway Arena perguntando por que ele n&atilde;o foi ao jogo. Mais surpreso ainda ficou quando responderam que o ingresso inclu&iacute;a um seguro para casos assim. &ldquo;O senhor gostaria de utilizar o seguro?&rdquo; Ele concordou e recebeu pelo correio um cheque de cerca de 120 d&oacute;lares. Putz! Para n&oacute;s que temos de sair no tapa para tirar o bic&atilde;o da nossa cadeira numerada nos principais est&aacute;dios do Brasil, que custou uma pequena fortuna; que temos de usar um banheiro imundo; que pagamos uma nota para um guardador de carros n&atilde;o riscar nosso autom&oacute;vel; que corremos risco de vida a cada vez que vamos a um est&aacute;dio, o relato do meu conhecido &eacute; pe&ccedil;a de fic&ccedil;&atilde;o. Essa hist&oacute;ria tem muito a dizer sobre a compet&ecirc;ncia t&eacute;cnica e profissional dos norte-americanos.
Mas sabe o que realmente me chamou a aten&ccedil;&atilde;o? Foi o que eu chamo de &ldquo;compet&ecirc;ncia moral.&rdquo; Algu&eacute;m tomou a decis&atilde;o moral de ressarcir quem foi prejudicado, o que de certa forma &eacute; de se esperar. Mas a verdadeira profundidade da decis&atilde;o moral foi: n&atilde;o vamos esperar que a pessoa reclame, vamos nos antecipar e avisar que ela tem direitos e perguntar se quer valer-se deles. Voc&ecirc; consegue imaginar uma situa&ccedil;&atilde;o assim aqui no Brasil?&nbsp; Deixe de lado a quest&atilde;o estrutural, se temos ou n&atilde;o computadores e gente capaz para implementar um processo id&ecirc;ntico. Concentre-se na pergunta que realmente interessa: temos a compet&ecirc;ncia moral para respeitosamente avisar a pessoa que ela tem um direito? Ou vamos optar pelo velho: &ldquo;Deixa quieto. Ele nem vai perceber...&rdquo;? Pois &eacute;. Compet&ecirc;ncia t&eacute;cnica e profissional tem jeito, o dinheiro pode comprar. Mas compet&ecirc;ncia moral, ah, isso vem l&aacute; de um lugar que o dinheiro n&atilde;o alcan&ccedil;a. Por isso vai demorar um pouco pra gente chegar l&aacute;.
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No Youtube: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=tvpxtY8-ixE">https://www.youtube.com/watch?v=tvpxtY8-ixE</a>
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Aqui tem seleção primorosa da MPB e reflexões não-trivias –e muitas vezes polêmicas– do apresentador, escritor e palestrante Luciano Pires. É assim que o Café Brasil trata de comportamento, cidadania, política e cultura brasileiras, em edições semanais. Eleito por duas vezes o Melhor Podcast de Entretenimento e Variedades no Prêmio Podcast Brasil e frequentador dos destaques do iTunes.Podcast Café Brasil: valorizando a liberdade de expressão e semeando a autonomia de pensamento.

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