O “mas” é uma conjunção coordenativa adversativa que liga duas orações ou palavras e expressa a ideia de contraste, de diferença. Vou explicar usando uma matéria do G1:

“Desemprego cai para 11,8% em julho e atinge 12,6 milhões de pessoas”. Esse é o fato. E o G1 escreveu assim:

“Desemprego cai para 11,8% em julho, mas atinge 12,6 milhões de pessoas”.

Notou diferença? No primeiro enunciado, “desemprego cai e atinge 12,6 milhões”, ou “e” significa que o desemprego está em queda e dá a entender que 12,6 milhões de pessoas é uma redução. Portanto devemos comemorar o avanço.

No segundo enunciado, “desemprego cai, mas atinge 12,6 milhões de pessoas”, esse “mas” dá a entender que o desemprego está em queda, mas isso não quer dizer muito, pois 12,6 milhões de desempregados é muito alto. Portanto, não há nada para comemorar, nenhum mérito a dar.

Esse é o “mas” como oposto, como contraste, que conhecemos de sobra.

O problema é que nestes tempos de manipulação da opinião pública, o “mas” passou a ser aquilo que chamo de Conjunção Coordenativa Escusativa: “Os mensaleiros meteram a mão no dinheiro público, mas foi por uma boa causa”;“O MST invadiu e destruiu a fazenda, mas aquelas terras são consideradas improdutivas”;“O hacker invadiu o celular do ministro, mas ele não deveria ter conversado com o procurador”.

E esse “mas” pode ser também Conjunção Coordenativa de Negação. “PIB Cresce 0,4% e surpreende, mas retomada é lenta”; “PIB reage, mas previsão para o ano ainda fica em 1%”; “Investimento empurra PIB, mas recuperação segue lenta”. Essas são manchetes dos jornais falando do anúncio de que o PIB brasileiro subiu 0,4% no primeiro trimestre do ano, o que deveria ser uma excelente notícia, não pelo número absoluto, mas pela reversão da queda.

O “mas” como Conjunção Coordenativa Escusativa prepara a escusa, a desculpa. Transfere responsabilidades para terceiros, justifica desmandos, atenua consequências e torna normal e aceitável aquilo que deveria ser rechaçado por imoral, ilegal e desonesto.

O “mas” como Conjunção Coordenativa de Negação, elimina qualquer mérito por coisas boas, liquida a esperança na melhora, valoriza o torto, o erro. E então temos o ”Roubou, mas quem não roubou antes?” “A boate pegou fogo, mas os que morreram sabiam que era um local arriscado”, “A moça foi estuprada, mas estava usando uma saia curtíssima”. Entendeu?

Preste atenção em quem usa o “mas” como desculpa ou como negação. Jamais perca de vista que quem escolhe, defende e protege o ruim porque antes era pior, continua escolhendo o ruim. E quem usa o “mas” para esconder algo bom só porque não gosta de quem o fez, é burro. Ou canalha.

 

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O &ldquo;mas&rdquo; &eacute; uma conjun&ccedil;&atilde;o coordenativa adversativa que liga duas ora&ccedil;&otilde;es ou palavras e expressa a ideia de contraste, de diferen&ccedil;a. Vou explicar usando uma mat&eacute;ria do G1:
&ldquo;Desemprego cai para 11,8% em julho e atinge 12,6 milh&otilde;es de pessoas&rdquo;. Esse &eacute; o fato. E o G1 escreveu assim:
&ldquo;Desemprego cai para 11,8% em julho, mas atinge 12,6 milh&otilde;es de pessoas&rdquo;.
Notou diferen&ccedil;a? No primeiro enunciado, &ldquo;desemprego cai e atinge 12,6 milh&otilde;es&rdquo;, ou &ldquo;e&rdquo; significa que o desemprego est&aacute; em queda e d&aacute; a entender que 12,6 milh&otilde;es de pessoas &eacute; uma redu&ccedil;&atilde;o. Portanto devemos comemorar o avan&ccedil;o.
No segundo enunciado, &ldquo;desemprego cai, mas atinge 12,6 milh&otilde;es de pessoas&rdquo;, esse &ldquo;mas&rdquo; d&aacute; a entender que o desemprego est&aacute; em queda, mas isso n&atilde;o quer dizer muito, pois 12,6 milh&otilde;es de desempregados &eacute; muito alto. Portanto, n&atilde;o h&aacute; nada para comemorar, nenhum m&eacute;rito a dar.
Esse &eacute; o &ldquo;mas&rdquo; como oposto, como contraste, que conhecemos de sobra.
O problema &eacute; que nestes tempos de manipula&ccedil;&atilde;o da opini&atilde;o p&uacute;blica, o &ldquo;mas&rdquo; passou a ser aquilo que chamo de Conjun&ccedil;&atilde;o Coordenativa Escusativa: &ldquo;Os mensaleiros meteram a m&atilde;o no dinheiro p&uacute;blico, mas foi por uma boa causa&rdquo;;&ldquo;O MST invadiu e destruiu a fazenda, mas aquelas terras s&atilde;o consideradas improdutivas&rdquo;;&ldquo;O hacker invadiu o celular do ministro, mas ele n&atilde;o deveria ter conversado com o procurador&rdquo;.
E esse &ldquo;mas&rdquo; pode ser tamb&eacute;m Conjun&ccedil;&atilde;o Coordenativa de Nega&ccedil;&atilde;o. &ldquo;PIB Cresce 0,4% e surpreende, mas retomada &eacute; lenta&rdquo;; &ldquo;PIB reage, mas previs&atilde;o para o ano ainda fica em 1%&rdquo;; &ldquo;Investimento empurra PIB, mas recupera&ccedil;&atilde;o segue lenta&rdquo;. Essas s&atilde;o manchetes dos jornais falando do an&uacute;ncio de que o PIB brasileiro subiu 0,4% no primeiro trimestre do ano, o que deveria ser uma excelente not&iacute;cia, n&atilde;o pelo n&uacute;mero absoluto, mas pela revers&atilde;o da queda.
O &ldquo;mas&rdquo; como Conjun&ccedil;&atilde;o Coordenativa Escusativa prepara a escusa, a desculpa. Transfere responsabilidades para terceiros, justifica desmandos, atenua consequ&ecirc;ncias e torna normal e aceit&aacute;vel aquilo que deveria ser recha&ccedil;ado por imoral, ilegal e desonesto.
O &ldquo;mas&rdquo; como Conjun&ccedil;&atilde;o Coordenativa de Nega&ccedil;&atilde;o, elimina qualquer m&eacute;rito por coisas boas, liquida a esperan&ccedil;a na melhora, valoriza o torto, o erro. E ent&atilde;o temos o &rdquo;Roubou, mas quem n&atilde;o roubou antes?&rdquo; &ldquo;A boate pegou fogo, mas os que morreram sabiam que era um local arriscado&rdquo;, &ldquo;A mo&ccedil;a foi estuprada, mas estava usando uma saia curt&iacute;ssima&rdquo;. Entendeu?
Preste aten&ccedil;&atilde;o em quem usa o &ldquo;mas&rdquo; como desculpa ou como nega&ccedil;&atilde;o. Jamais perca de vista que quem escolhe, defende e protege o ruim porque antes era pior, continua escolhendo o ruim. E quem usa o &ldquo;mas&rdquo; para esconder algo bom s&oacute; porque n&atilde;o gosta de quem o fez, &eacute; burro. Ou canalha.
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Aqui tem seleção primorosa da MPB e reflexões não-trivias –e muitas vezes polêmicas– do apresentador, escritor e palestrante Luciano Pires. É assim que o Café Brasil trata de comportamento, cidadania, política e cultura brasileiras, em edições semanais. Eleito por duas vezes o Melhor Podcast de Entretenimento e Variedades no Prêmio Podcast Brasil e frequentador dos destaques do iTunes.Podcast Café Brasil: valorizando a liberdade de expressão e semeando a autonomia de pensamento.

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